NO VERÃO PARAENSE, A PRIMAVERA BRASILEIRA!

Sai de casa por volta das 17h00. Quanto mais eu me aproximava do nosso ponto de encontro em São Brás, mais o coração acelerava. No caminho, inúmeras pessoas seguiam caminhando pela Almirante Barroso até São Brás de onde partiríamos com a multidão que nos esperava. Não éramos dez, nem cem, nem quinhentos, mas milhares nas ruas continuando o #MovimentoPasseLivre que começou em São Paulo/SP e se espalhou pelo Brasil. 

A manifestação não ganhou uma ampliação somente geográfica, mas também política. Ainda que o transporte público tenha sido o motivador, outras pautas se viam presentes nos cartazes e ecoava na voz dos participantes. Enquanto algumas faixas traziam as reivindicações por uma educação de qualidade, outras carregavam o grito dos povos da Amazônia: Pare Belo Monte! Em meio a todas as inquietações, uma bandeira com as cores do arco-íris indicava que a luta também era pela diversidade e contra a homofobia.

Continuamos a caminhada rumo ao Entroncamento, paramos o trânsito. Fechamos um lado de uma das principais vias de acesso à cidade além de tomarmos o canteiro central, onde encontra-se parada há muuuuuuito tempo as obras do BRT. Houve quem reclamasse sobre o fato de termos impedido a passagem de ônibus, carros e motos, eu também teria reclamado... se não tivesse entendido que até o meu direito estava sendo reivindicado naquele momento.

A marcha seguiu tranquila, tanto pelos militares que estavam espalhados pelo trajeto e principalmente pelo povo que foi às ruas, não por um sentimento de revolta, mas de rebeldia. Uma das palavras de ordem refletia justamente isto: “não a violência!”. Senti cheiro de vinagre em um determinado lugar enquanto um amigo explicava “quimicamente” a reação entre o produto e a bomba de efeito (i)moral. Bom, mas não foi necessário e quem trouxe a garrafinha de vinagre, pode levar de volta pra casa e colocá-lo na dispensa.

E até a natureza se juntou aos manifestantes. Afinal, estávamos numa terra onde o cair da chuva é um rito (quase que) sagrado. Quem disse que a caminhada parou? Já dizia o ditado “quem está na chuva é pra se molhar” então, seguimos adiante. Houve silêncio na frente dos dois hospitais que passamos, demostrou ainda mais o respeito e a organização que estava sendo conduzido o ato e dos participantes.

Depois da grande marcha do Fórum Social Mundial em 2009, esta foi a segunda maior que participei em minha vida. No meu subconsciente escuto as músicas de libertação, desde aquelas cantadas em meio a ditadura militar até as mais atuais, que se concretizam na ousadia d@s jovens, na profecia daqueles(as) que fazem acontecer um outro mundo possível. Sinto-me mais motivado a participar destas passeatas, ao ver companheir@s da Rede Jovens + Pará e da Pastoral da Juventude, organizações que estão em minha vida, presentes na caminhada.

O fato de chegarmos a 16 mil pessoas nas ruas, em plena segunda-feira de junho não é mera coincidência e nem algo isolado da conjuntura mundial. Embora ainda estejamos vivendo um inverno-outono, a esperança se faz presente com a juventude tomando conta das ruas do país, no verão paraense e na #PrimaveraBrasileira que (re)começa aqui e agora!